Conta a lenda que uma jovem mulher adoecera. Um sonho teria indicado que deveria procurar o rei. O rei tocou-lhe o pescoço e ela se sentia melhor e, em menos de uma semana, ficaria curada. O toque real tornou-se um ritual de cura no mundo medieval. Embora seu poder fosse mais simbólico que real, o rei e seu título eram considerados sagrados e seu toque visto como algo capaz de destruir ou de curar. Quando Hugo Capeto tornou-se rei da França em 987 , seu reino, apesar do caráter sagrado de sua posição , abrangia apenas a cidade de Paris e seus arredores. Ele podia exigir 40 dias de serviços militares de cada vassalo e gozar do privilégio de ser considerado protetor da Igreja Católica. Aos poucos , os sucessores de Hugo Capeto ampliaram o reino e o poder sobre os senhores feudais. Áreas distantes de Paris , como Languedoc, no sul da França , e Flandres, no norte , submeteram-se à autoridade real francesa. Os monarcas ressaltavam a origem divina de seu poder para impor suas ordens a senhores feudais rebelados e se defender contra pretensões do Papa de dominar a Igreja Francesa. A partir de 1302, quando necessitavam se apoio político interno , os monarcas franceses convocavam os Estados Gerais - assembleias de escolhidos entre as várias elites: o clero, a nobreza e as lideranças urbanas. A convocação era sempre efetuada para legitimar atos reais ou dar credibilidade ao governo. Também a guerra servia aos interesses da monarquia . No decorrer da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), a tributação para financiá-la enriqueceu a monarquia e sustentou um grande exército permanente sob o comando real. O conflito estimulou a fidelidade ao rei, visto como símbolo da identidade nacional: os ingleses eram o inimigo comum, diferentes na língua, nos costumes , no vestuário e na aparência. Em seu tempo, o filósofo Maquiavel observou que a fragilidade italiana vinha de sua falta de unidade e que o poder da França vinha, em grande parte, da força de seu príncipe e de seu enorme exército, constituído quase todo de franceses natos.
